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A propósito do Censo

 

O Censo de 2011 veio confirmar o decréscimo da população em seis ilhas açorianas: S.ta Maria, Faial, Pico, São Jorge, Graciosa e Flores.
Pouco importa que o arquipélago, no seu conjunto, tenha crescido 1,7%, pois isso aconteceu em concelhos populosos como Ponta Delgada, Ribeira Grande e até Praia da Vitória. Todavia, já começa a ser preocupante o decréscimo registado no concelho de Angra do Heroísmo se bem que a Ilha Terceira mantenha um saldo fisiológico positivo.
Em São Miguel, o fenómeno da atração dos micaelenses por Ponta Delgada, continua a afastar a população da Povoação (-6,13%) e do Nordeste (-7,01), o que já se registou em censos anteriores. O grave é que a população nordestense está abaixo dos 5 mil habitantes e a da Povoação ronda os 6.300.
Mais inquietantes me parecem os dados relativos às outras ilhas, à excepção do Corvo, onde o Ensino Básico trouxe vantagens evidentes.
A Ilha do Pico já pouco passa a barreira dos 14 mil habitantes e todos os concelhos perderam população, e o Faial com 15.038 para lá vai também se não se estancar esta hemorragia que definha também as ilhas das Flores, Graciosa e São Jorge.
Há muito que se vem afirmando que o declínio da população afeta o desenvolvimento de ilhas com maior ou menor superfície e não favorece o crescimento empresarial nem a fixação de jovens. Sem gente, não há economia saudável, nem a capacidade empreendedora tem pernas para andar. Pelo menos nos atuais parâmetros económicos em que nos movemos.
Por isso, há que encontrar respostas compatíveis com a situação demográfica e económica de cada uma das ilhas.
Nas ilhas com menor população, onde o envelhecimento é evidente, tem de se encontrar alternativas empresariais, ligadas às áreas do turismo agro-ambiental e à saúde que atraiam investidores e dêem emprego à população em idade ativa. Outra vertente é a ligada às novas indústrias da bio-tecnologia que, nas ilhas mais pequenas, pela sua posição estratégica-atlântica, podem ter um campo extraordinário de desenvolvimento.
Mais cedo ou mais tarde, iremos concluir que a tão apregoada vocação agro-pecuária açoriana não se afirmou pela tipicidade e qualidade dos nossos produtos de que deveriam resultar ganhos maiores para os agricultores.
          Fomos arrastados para a produção leiteira intensiva e engolidos pelas multinacionais do queijo flamengo e do leite em pó, e não resistimos à concorrência feroz dos mercados da carne sul-americanos. Para sobrevivermos, continuamente suplicamos da UE compensações à custa da ultraperiferia.
Até quando se manterá esta situação que nos vai empobrecendo, silenciosamente?
A solução tem de ser outra. Estas ilhas não estão votadas ao fracasso e ao abandono. Face às nossas capacidades ambientais, à nossa localização no meio do Atlântico, e a outras características cada vez reconhecidas por instituições internacionais, temos potencialidades para nos desenvolvermos no quadro do que de novo começa a vislumbrar-se para a economia mundial; com o contributo ativo da Universidade, abrindo e apontando caminhos decorrentes de uma aturada investigação científica, fonte do progresso humano.
A este e outros contributos resultantes de uma cidadania ativa, deveriam juntar-se o de instituições empresariais, sindicais, educativas e políticas.
Os resultados do Censo, deveriam ter desencadeado na imprensa e nos órgãos sociais e políticos regionais – das Assembleias de Freguesia à Assembleia Regional – uma séria análise sobre o declínio populacional das últimas cinco décadas, apontando perspetivas para inverter a situação.
Até agora, não vi que esse problema causasse qualquer perplexidade aos mais responsáveis; antes, alguns parecem mais interessados nas questiúnculas partidárias, nas questões de lana-caprina e em outras mediocridades.
É o nosso futuro que está em jogo.
Ou paramos para pensar ou, pela nossa pequenez, seremos devorados pelo arrastar da crise sistémica que, quanto antes, deve dar lugar a um novo paradigma.

 

 

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